O Bom, o Mau e o Feio




Se nos anos 50 a sociedade marcada pela guerra anseiava por conforto e comodidade, os jovens da década que se seguiu não demoraram em questionar tais atitudes: surgia a contracultura, cheia de rebeldia, rock n' roll e novidades. A juventude passa por uma explosão cultural e as mudanças atingem todas as áreas da vida cotidiana, tendo mudado drasticamente a arte, na intenção de fugir do senso-comum.
E o cinema, como pura e completa expressão artística também passou por essa revolução. Foi aí que surgiram movimentos como a novelle vague,  reação às superproduções populares de Hollywood (sendo os maiores nomes Jean-Luc Goddard e François Truffaut). Na Itália, uma das respostas ao novo pensamento juvenil foi os chamados spaghetti westerns, produções com orçamentos reduzidos, atores em início de carreira ou menos conhecidos pelo público. Voltavam ao gosto popular as histórias de bang bang, antes em declínio. Três Homens em Conflito (1966), de Sergio Leone, representa bem a essência disso: anti-heróis pistoleiros sem nome foram símbolos de revolução social.


Badass ao extremo! São 161 minutos que voam como se fossem 16. Clint Eastwood (que nem sempre foi um velho com cara de rabugento, diga-se de passagem) já se consolidou como um Hattori Hanzo dos Western. É tão referência no gênero que até nosso querido Marty McFly (De Volta para o Futuro) resolveu roubar o nome emprestado durante sua viagem ao Velho Oeste.



O filme de Sergio Leone conta a disputa entre três homens, Blondie (Clint Eastwood), o "bom", Tuco (Eli Wallach), o "feio" e Angel Eyes (Lee Van Cleef), o "mau" por um tesouro escondido em um cemitério. O problema é que cada um deles sabe um pouco sobre a localização: eles precisam se unir para encontrá-lo. Porém, é óbvio, ninguém quer dividir o prêmio.



O western é o fechamento da conhecida "Trilogia dos Dólares" (Por um Punhado de Dólares, Por Uns Dólares a Mais e Três Homens em Conflito). A filmografia de Leone já mostra seu estilo: foco no olhar dos atores, em closes que destacam rostos sujos e muito expressivos, onde não há falas. O humor é ácido e irônico, e o suspense... Ah, o suspense... É terrível/magnífico!

Após 3 minutos de introdução você já percebe que entrou em contato com uma obra prima. Os créditos (que, por ser um filme de 66, frequentemente eram mostrados no início do filme e não no final, como estamos acostumados) são super bem feitos e realmente "introduzem" o clima e estilo do filme ao telespectador.

Logo no início, somos apresentados aos personagens: primeiro Tuco (Eli Wallach), que num tiroteio se safa matando dois caçadores de recompensas que estavam atrás dele. Tuco é onde mais se concentra a parte cômica (que não é muita pois o interesse não é fazer comédia) pois é ao mesmo tempo atrapalhado e vingativo. O ator é incrível, Eli Wallach dá um show de interpretação durante o filme todo.
Depois vemos Angel Eyes (Lee Van Cleef), que faz jus ao apelido de "mau". Só tem interesse em dinheiro, não ligando para valores morais ou de honra. Obedece quem paga mais.
E por último, Blondie, o "bom", que salva Tuco porém acaba entregando-o à polícia para receber uma recompensa. Depois disso eles começam a trabalhar juntos: Blondie vai às delegacias e entrega Tuco, salvando-o da forca depois para dividirem a recompensa.
Acontece que um dia Blondie larga Tuco no meio do deserto, com uma mão na frente e outra atrás. Tuco consegue voltar à cidade, e vinga-se fazendo o mesmo com Blondie. 
Aí então descobrem um tal de Bill Carson que havia escondido um tesouro em um cemitério: Blondie sabe em qual lápide está o tesouro, já Tuco sabe qual é o cemitério que o tesouro está escondido. Um não pode buscá-lo sem o outro.


Uma das cenas mais épicas do western é quando Tuco corre pelo cemitério ao som de The Ecstasy of Gold

Angel Eyes não sabia nenhum dos dois porém planejava encontrar Bill Carson e descobrir tudo sozinho, para ficar com o prêmio todo.
A partir daí vale tudo pelo dinheiro: além da procura eles precisam enfrentar as trapaças dos seus adversários. 
O filme é de certa forma bem longo, porém após essa primeira hora de introdução o ritmo é rápido e literalmente não se vê a hora passar. E depois de tudo isso, quando acaba, ainda fica aquela vontade de mais, mais mais :O





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A trilha sonora do western, de Ennio Morricone, é simplesmente uma das mais conhecidas da história do cinema, quiçá a mais famosa. A música principal alterna assovios, que enfatizam a desolação e solidão que o deserto do Oeste dos Estados Unidos representava; guitarra flamenca e sons de gaita. Sem contar nos tambores que remetem aos indígenas americanos e que o ritmo da música ainda te lembra um cavalo trotando. Bem básico, não?
E o principal é que foi encaixada com um timing perfeito: não é tocada à exaustão como ocorrem em alguns blockbusters, e sim nos momentos certos, criando um clímax maravilhoso.

Atualmente Três Homens em Conflito está em 6º lugar na lista do Internet Movies Database (IMDb) de melhores filmes de todos os tempos.
Recebeu infinitas homenagens: Quentin Tarantino fez de seu filme Kill Bill 2 uma enorme referência aos filmes de western ao usar a mesma técnica de closes silenciosos e colocar a trilha sonora no longa; a banda americana Metallica tocou a música The Ecstasy of Gold para o álbum de homenagem à Ennio Morricone, além de usá-la como introdução para os seus concertos desde 1983.



Nota final: um punhado de estrelas - 5/5







Ah! Para elas (ou não apenas, né) o filme tem ainda um bonus que dispensa maiores explicações:
Capiche?


Escrito por

Débora, 18 anos. Costumava ser um Jedi mas se uniu ao lado escuro. Da Lua.

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